segunda-feira, 9 de maio de 2011

numa sala do texas


A diferença horária entre College Station no Texas e Lisboa é de mais de seis horas, por isso, para falarmos temos que acertar a hora do encontro para aproveitar bem o tempo. Assim, aos Domingos ou aos sábados ao fim da manhã, ligamos os repectivos skypes, com as câmaras devidamente apontadas e...o milagre acontece. É o sonho transformado em realidade. Pensar que quando vivíamos em Santarém, debruçados sobre o rio Tejo, viamos filmes a preto e branco na televisão e uma das coisas que mais me fascinavam  eram os filmes futuristas em que os telefones tinham um pequeno ecrã de televisão e as pessoas ligavam-se e falavam em directo umas com as outras. Aquilo fascinava-me mas achava o fenómeno tão impossível de se tornar realidade que me obrigava a pensar que se tratava de uma loucura. Loucuras de um reliazadcor um bocado marado que gostava de imaginart impossiveis. Boa!. Adoro as supresas da vida. Tudo começou a andar muito depressa, e de repente o sonho virou mil realidades cada uma mais incrivel que a outra. Sentada descansadamente na minha sala em Lisboa, num segundo, carregando numa teclazita do computador entro numa outra sala, por sinal bem maior que a minha, que dá para um belo jardim cheio de árvores, algures numa cidade perdida no Texas. O meu companheiro de skype pega no computador e anda pela casa inteira a mostrar-me todos os cantos. Pelo caminho, encontramos a Julia, uma menina com 5 anos que de descaradinha passou a envergonhada e quando percebe que está dentro da mira do computador rasteja rapidamente para baixo de uma mesa. E o computador avança pela casa. Agora entramos num enorme quarto de brinquedos onde dois adolescentes gémeos, um rapaz e uma rapariga - me acenam com um ar amigável, é domingo de manhã e eles jogam um jogo qualquer na maior tranquilidade. Mais uma reviravolta com o computador e eis-nos de volta á cozinha, enorme, bem à americana. Grande mesa, grandes janelas de vidro até ao chão, está tudo pronto para o pequeno almoço. Ouvem-se vozes e chega a dona da casa, com quem troco os bons dias. Ela tem o cabelo a pingar porque deu umas braçadas na piscina. Temos saudades uma da outra e falamos ao mesmo tempo.Tento fazer o mesmo com o meu computador e vou ao quarto do meu filho manel que acordou particularmente mal disposto e mal abre a boca. Fico furiosa com ele, este miúdo anda parvo. O Zé já saiu para estudar fora. Desisto. Só tenho a grande árvore do adro da igreja para mostrar. Toda a gente já a viu mil vezes.
Voltamos ás respectivas salas, sentamo-nos, olhamo-nos nos olhos e começamos a falar. É o momento sagrado das revelações. Estão três quadros na parede da sala do Texas, um homem, uma mulher e uma criança. São parentes já mortos há muito. Fico de repente a saber que a mulher supostamente minha tetravó matou o marido para casar com o jardineiro. O homem, seu filho, matou a mulher brasileira num ataque de ciúmes. Ela enganou-o com outro homem, e ele decidiu abafá-la com uma almofada embebida em clorofórmio. O menino não sei quem é, esqueci-me, deve ser uma desgraçada criança da família, como uma camisa branca de folhos engomados e um casaquinho de veludo. Os seus olhinhos pretos escondem segredos e terrores. Fico a saber que os quadros foram herança tardia de um primo afastado. Bem haja, primo, esteja onde estiver, porque esta história é peça indispensável para perceber alguma coisa do nosso labirinto familiar.
Fico em estado de choque com a revelação mas depois rimo-nos ás gargalhadas. Nada de dramatismos, afinal estamos vivos e contentes. E apesar das saudades, estamos á distância de um clique - não é assim que se diz na publiivdade? - temos a cnfortável certeza que vamos continuar as histórias para a semana.

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