Afinal gosto de ficar em silêncio e pelas melhores, mais pacificas e bondosas razões. Há bocado disse que não, não senhor, que falar é quase sempre muita bom, e quando me remeto ao silêncio é para poder usá-lo como arma de arremesso, quando a malta conversadora não vale um caracol e só diz estupidezes do caraças, e que me calo porque se falasse era para os insultar, para os denegrir, para os envergonhar, para berrar com eles, para os assassinar psicologicamente, para os deitar abaixo intrapsiquicamente, para os colocar no lugar que verdadeiramente lhes compete, que é uma capoeira que eu tenho lá no fundo do jardim. Mas não. Mais uma vez me arrependo dos meus impulsos arrogantes e das minhas conclusões radicais, e ainda do saco de dinamite que trago sempre na carteira para o que der e vier não vá irritar-me com qualquer coisinha que me desagrade, nomeadamente um monólogo muita estúpido.
Não, a verdade é que eu adoro partilhar o silêncio a dois, a três ou seja como for desde que aconteça em certas e determinadas circunstâncias, como na ...meditação, por exemplo. Acontece que tomei consciência disto agorinha memso, vinda duma dessas sessões em bela companhia, e em que se fez um silêncio de ouro, compartilhado na mais tranquila disposição que se pode imaginar. E sim, «conversámos» em silêncio. Lurdes de Castro, artista plástica, hoje com 80 anos, vive num mundo encantado algures nos Açores, numa casa de fadas. À noite, apura o ouvido e imagina a agitação das conversas intermináveis entre as raizes das árvores enterradas nas profundezas da terra escura, e que assim se cruzam, trocam, tocam e comunicam em silêncio, quando à superficie, todos dormem descansados. Assim acontece quando se adormece o corpo mas não o espírito. Em vazio e silêncio, vemos a nossa vida como um filme. Do silêncio partilhado surge uma corrente de pensamentos adivinhados pelo grupo. Cada um contribui com as suas imagens. Foi diferente (para mim) e soube-me muito bem.
Também gosto da comunicação entre inconscientes, em que não é preciso articular uma palavrinha que seja porque há canais comunicantes que as levam e trazem sem que ninguém mexa um músculo da cara. Falar sem articular palavra, sem abrir a boca, é coisa mágica e intensa. Adivinhar os pensamentos do outro assim, sem mais, e enviar-lhe outros tantos de volta, tudo no maior e mais profundo silêncio, é outra forma de viajar sem limites. Não, não é para todos. É uma coisa especial que acontece em situações especiais.
Não esquecer que há outras coisas na vida para além das «especiais». Não é preciso ser alien já nascido com dons especiais. Por mim, posso caminhar horas em silêncio à beira-mar com alguém fixe, com quem me sinta em perfeito à vontade, alguém em quem confie, que me faça sentir bem, mesmo (e sobretudo) sem palavras. Porque, diga-se a verdade, um longo passeio à beira de um mar que seja digno desse nome, furioso, zangado, imenso, um bruto mar atlântico, agreste e ameaçador, não dispensa um silêncio a sério. Nada pior que uma gralha, mesmo que seja do mais filosófico e profundo que há, que insista em falar mais alto que o mar. Aí, lá volto a deitar mão ao dinamite e vai tudo pelos ares em menos de um fósforo. Querem brincadeira, não?
Posso partilhar contigo um passeio á beira mar ????
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