
Não, a verdade é que eu adoro partilhar o silêncio a dois, a três ou seja como for desde que aconteça em certas e determinadas circunstâncias, como na ...meditação, por exemplo. Acontece que tomei consciência disto agorinha memso, vinda duma dessas sessões em bela companhia, e em que se fez um silêncio de ouro, compartilhado na mais tranquila disposição que se pode imaginar. E sim, «conversámos» em silêncio. Lurdes de Castro, artista plástica, hoje com 80 anos, vive num mundo encantado algures nos Açores, numa casa de fadas. À noite, apura o ouvido e imagina a agitação das conversas intermináveis entre as raizes das árvores enterradas nas profundezas da terra escura, e que assim se cruzam, trocam, tocam e comunicam em silêncio, quando à superficie, todos dormem descansados. Assim acontece quando se adormece o corpo mas não o espírito. Em vazio e silêncio, vemos a nossa vida como um filme. Do silêncio partilhado surge uma corrente de pensamentos adivinhados pelo grupo. Cada um contribui com as suas imagens. Foi diferente (para mim) e soube-me muito bem.
Também gosto da comunicação entre inconscientes, em que não é preciso articular uma palavrinha que seja porque há canais comunicantes que as levam e trazem sem que ninguém mexa um músculo da cara. Falar sem articular palavra, sem abrir a boca, é coisa mágica e intensa. Adivinhar os pensamentos do outro assim, sem mais, e enviar-lhe outros tantos de volta, tudo no maior e mais profundo silêncio, é outra forma de viajar sem limites. Não, não é para todos. É uma coisa especial que acontece em situações especiais.
Não esquecer que há outras coisas na vida para além das «especiais». Não é preciso ser alien já nascido com dons especiais. Por mim, posso caminhar horas em silêncio à beira-mar com alguém fixe, com quem me sinta em perfeito à vontade, alguém em quem confie, que me faça sentir bem, mesmo (e sobretudo) sem palavras. Porque, diga-se a verdade, um longo passeio à beira de um mar que seja digno desse nome, furioso, zangado, imenso, um bruto mar atlântico, agreste e ameaçador, não dispensa um silêncio a sério. Nada pior que uma gralha, mesmo que seja do mais filosófico e profundo que há, que insista em falar mais alto que o mar. Aí, lá volto a deitar mão ao dinamite e vai tudo pelos ares em menos de um fósforo. Querem brincadeira, não?
Posso partilhar contigo um passeio á beira mar ????
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