Silêncio, silêncio, silêncio. É de ouro. Sou eu que o digo e digo também que das coisas que mais gosto é de falar. Posso falar horas e horas e horas, sem quase parar de ouvir, desde que esteja com o interlocutor certo. Como é esse personagem? (deixem-me fazer mais este pequeno exercício narcisico - afinal, os blogues servem para isso mesmo e ainda para mandar mensagens encriptadas - podia ter trabalhado para os serviços secretos mas a vida não quis). Pois dizia eu que o meu interlecutor prarticamente perfeito - e felizmente tenho alguns muito, muito bons - é alguém que é inteligente, intuitivo, generoso, observador, empático, que se interessa pela vida, que é curioso, que tem objectivos, que me tem afecto, que é assertivo, atento, com cultura que baste, que goste de uma certa música, de alguns livros, de pessoas porque sim, ou seja, pela melhores razões ou apenas pela mais pura curiosidade, que tenha sentido de humor, ou seja, que possa/saiba rir á gargalhada, que tenha alguma ironia e mesmo um tudo nada de maldadezinha, que saiba ouvir e falar no momento certo. E que a nossa conversa seja assim como uma dança ao som de uma música especial. Uma coisa tipo viagem, ora suave ora alucinada, uma coisa sem fronteiras.
Depois há alguns aspectos mais «especializados» e mais raros de encontrar, e portanto de número mais restrito no grupo dos «bons interlecutores: que goste de psicologia Dinâmica. Que tenha muitos livros sobre psicanálise. Que tenha bom coração. Que seja um bocado criança e um bocado adulto. Que seja neurótico em tratamento ou já quase tratado. Pode ser um bocado histérico mas também não excluo um pequeno obsessivo. Já o fóbico faz-me um bocadinho de impressão. Não pode ser, de forma nenhuma, narcisico grave. Border-line também não é o meu género de eleição. O esquizoide sonhador esgota-me. Os neuróticos são, definitivamente, os melhores.
E que tenham muito, muito sentido de humor, um bocado ácido, um bocado infantil ou simplesmente sentido de humor, essa é definitivamente uma grande recomendação.
Estes são os interlocutores de peso. Serão três, quatro, cinco...mas são de ir ás lágrimas. Depois de uma boa e intensa conversa, adormeço profundamente até de manhã, no meu sofá da sala, com uma manta e música baixinha ou em perfeito silêncio, serenidade, fresca como uma alface. Acordo refeita, renascida. Houve encontro profundo, partilha de gémeos, troca criativa, espaços novos, viveu-se a proximidade e a verdade esteve ali mesmo .
Depois há outras caraterísticas simpáticas em interlocutores mais de passagem, mais softs, muito ou pouco próximos mas quase invariavelmente agradáveis. Podem ter todas as idades, desde os 10 aos 80 anos, ter todas as profissões, até serem um bocadinho (mas só ujm bocadinho) de direita, que são benvindos. São atentos e carinhosos, interessados, por vezes um bocado bizarros, algumas pancas, muitas vezes divertidos, a dominar assuntos vários, especialistas em economia, em gastronomia, em filosofias orientais, em futebol ou meditação, em homeopatia e produtos biológicos, em moda, em copos e piadas.Gosto. Fartamo-nos de rir. Gostamos da companhia uns dos outros pelas mais variadas razões mas o «cimento» que nos une é, sobretudo o afecto, sem mais. Amizade. Boas amizades de anos ou de meses. Mesmo que a conversa não seja «de ir ás lágrimas», mesmo que a viagem mental e emocional não seja galáctica a duzentos à hora pelo infinito fora, são belíssimos interlocutores, olu melhor, são óptimos companheiros de conversa. Encontramo-nos regularmente e com eles ningu+ém se cala embora muitas vezes não nos oiçamos uns aos outros mas isso não faz diferença nenhuma.
A única situação em que observo silêncio total, ora sorridente, ora mais grave, são aqueles que nos querem ensinar coisas, que se contradizem alegremente, que misturam alhos com bugalhos, que nos falam interminavelmente de futebol, de electrodomésticos e de automóveis, que têm sempre razão, que de repente nos metralham sem parar com as suas convicções nos mais variados campos, que dão sempre a volta por cima, que são muita «bons» no que fazem, que nada os surpreende, que têm imenso medo da crise porque «não vai haver mais subsídios de férias», que com eles «ninguém faz farinha», que se queixam amargamente da empregada, dos filhos que estão «insuportáveis», que só acreditam no que vêem, que o Salazar faz cá falta e que o desempenho do Sócrates prova que a «esquerda não resolve nada». São os que dizem que perderam «imenso» poder de compra, que o futuro vai ser dramático e aterrorizador, mas que depois acrescentam, com ar angelical e inocente, que vale a pena ir pelo menos uma vez por ano às ilhas Fiji, porque quem não as conhece não conhece nada do que é bom. Os disparates sucedem-se mas o pior é a formulação dos «problemas» isso, então, é de arrepelar os cabelos.
Silêncio, meus senhores. Nunca saberão o que penso sobre estes assuntos e outros do género. Calo-me com prazer: ninguém me pode obrigar a falar. Querem respostas? isso é que era bom!!! Responder é altamente perigo e totalmente desaconselhável.
Entao está bem :) tb acho que esses interlocutores é que são bons. Pena raros..ou apenas por encontrar.
ResponderEliminarbeijinho*