sábado, 18 de agosto de 2012




nascentes do bosque e becos sem saida


Não vou dividir o mundo em dois, ou três, ou quatro, ou qualquer outro número porque seria inútil, sem rigor, sem verdade, injusto. As classificações são úteis para os manuais de patologias, psicologias, teoiras e outros do género, que eu adoro (arrumar coisas em gavetas é uma nova atividade que me enche de alegria), mas que para aqui não são chamados.  Estou a falar dos «mundos interiores», tema mais do que escorregadio, nunca totalmente acabado, explorado, tema complexo e rico, além de privado e infinito. Classificar é, fora do devido contexto, um ato muito incompleto e atrevido, sobretudo, altamente pretencioso porque o faz.

mas se há coisa a que não resisto é classificar. perdoem-me mas tenho esta maniazinha de vez em quando. Assim, aprendo imensamente - e como se calcula é uma aprendizagem rica e nunca acabada - é destas que eu gosto - a observar, a sentir, a mergulhar no que se passa á volta. e passa muita coisa. dessas coisas que olho, são muitas as que com que me identifico. o tal mecanismo de espelho seguido do não menos maravilhoso, por ser tão mágico, mecanismo de associação. é automático. olho,oiço, sinto e todas essas imagens e sensações fazem dentro de mim um longo caminho. e essas mesmas sensações, sentimentos e emoções que à partida são dos outros, à sua passagem dentro de mim, arrancam e identificam bocados de mim mesma: eu fui assim, eu senti assim, eu sinto isto, eu vivi aquilo, eu tenho esta fantasia, eu tenho esta esperança, este desamparo, este medo, esta alegria. somos todos muito iguais. somos todods muito diferentes. e nessas pareceças e desigualdades, nessa união tão infinitamente rica, eu sinto-me renascer a cada instante. somos todos, somos um, somos um bilião, e todos vivemos esse cortejo imenso de emoções das mais variadas maneiras, nascidas e desenvolvidas nos mais variados contextos. somos diferentes.
essa possibilidade dediferença essencial é a mais pura criatividade. Chamemlhe divina, chamem-lhe o que quiserem, criatividade pura, libido milagrosa, magma de vida.

por isso o mundo é tão extraordinariamente mágico e maravilhoso. sem fundo. Mas sim, aconselho sempre a procurarem no fundo. Vale mesmo a pena, diria, atrevidamente mais uma vez, que é das mais essenciais coisas a fazer. Mergulhar no nosso mundo a fundo para poder mergulhar no dos outros. as descobertas nunca mas nunca acabam.

voltando atrás, divido o mundo em dois sem complexos, sabendo bem os riscos que corro. mas não resisto: as nascentes de vida, que nascem nas rochas do bosque verde, e as outras que são verdadeiros becos sem saída. Têm saída mas apresentam-se como becos sem saída.
falando de uma forma simples: há aquelas pessoas, aqueles encontros em que mais ou menos inesperadamente se revelam fiontes de vida. Estão muitas vezes em fases de renovação. Estão abertas á mudança, ou seja, neste momento unico em que vivemos, não conseguem nem querem ficar paradas. não resistem à intensidade das coisas. Falam das suas emoções! Emocionam-se, lembram coisas com verdade, lucidez, não fantasiam. querem aprender. São generosas, dão o seu afeto, o seu calor, o seu riso, a sua zanga, contam histórias, a transparência é coisa urgente.

por estas pessoas que entram na minha vida talvez empurradas pelo vento bravio das tempestades, por estas, eu sinto-me reviver com elas. acompanham-me todo o dia no meu pensamento. são parte essencial do meu prazer de viver.

depois, os becos sem saída: umas vezes enternecem-me, outras entristecem-me, deprimem-me, outras estimulam o meu interesse e prazer de mergulho, encanta-me os mistérios negros e cionzentos das suas vidas tão estranhas e barrocas. depende do momento.

Os becos sem saída querem falar a verdade que os seus corações pedem mas infelizmente não conseguem. estão mudas bem no fundo delas próprias. Querem falar mas não conseguem. ficam sérias, como uma superficie cinzenta de um lago imenso em que nada mexe, nada bule, nem uma filha de árvore existe por ali, a voar e a fazer mexer a água.
Alguns becos sem saída são secos, azedos, neles, nada cresce. Não dão dada a ninguém porque ninguém lhes deu nada (e esta pode ser a maior das tragédias, e ainda os faz, aos becos, sentirem-se culpados por não terem sido devidamente amados) a este becos tristes.

 oh meu Deus, queria tanto sentar-te ao meu colo e contar-te uma pequena história de encantar. Gostava de ser tua avó por minutos e poder voltar atrás e desfazer esse nó de tristeza, de silêncio forçado.

Os becos sem saída engoliram demais porque os calaram sem dó nem piedade. e assim cresceram mudos e sós. Há muita solidão e silêncio nos becos sem saída. O pior de tudo é não poder falar, é não saber falar, é querer dizer o que se sente e ficar simplesmente calado. ou falar de coisas sem peso, coisas mortas, inúteis. Com tanto que havia para dizer!

e depois, na verdade, há muitas outras coias na vida, muitas outras combinações extraordinárias de pedaços de gente, de nós.
agradeço por ter tanta gente na minha vida que me ensina, que me comove, que me faz rir, que me dão o prazer imenso de de me contar as suas incríveis histórias que são fontes de inspiração absolutamente divina.

agosto escaldante este, em que tanta coisa muda. agosto intenso este, em que somos inundados de emoções nunca antes vividas com tanta lucidez.

O momento é eterno, a vida eterna. um abraço imenso, imenso, imenso, imenso ás pessoas que dizem adeus e se preparam para partir neste agosto implacável. ficam no nosso coração para sempre.



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